Estou na praia de Malibu, no espigão onde há meio século o detetive Philip Marlowe encontrou um de seus cadáveres. Jack Miles me mostra uma casa linda, lá longe, lá no alto: ali morou o homem que abastecia Hollywood de risadas. Há dez anos, Jack passou uma temporada naquela casa, quando o abastecedor de risadas decidiu ir embora para sempre.
A casa estava toda atapetada de risadas. Aquele homem tinha passado a vida recolhendo risadas. Gravador em punho, tinha percorrido os Estados Unidos de cabo a rabo, de alto a baixo, buscando risos, e tinha conseguido reunir a maior coleção do mundo. Tinha registrado a alegria das crianças brincando e o alvorocinho assim meio gasto de quem já viveu muito. Havia risos do norte e do sul, do leste e do oeste. De acordo com o que pedissem, ele podia proporcionar risadas de celebração ou risos de dor ou de pânico, risadas apaixonadas, escalafriantes gargalhadas de espectros e risos de loucos e bêbados e criminosos. Entre suas milhares e milhares de gravações, tinha risos para acreditar e risos para desconfiar, risadas de negros, de mulatos e de brancos, risadas de pobres e de ricos e de remediados.
Vendendo risos, risos para cinema, rádio e televisão, tinha ficado rico. Mas era um homem até que melancólico, e tinha uma mulher que só com uma olhada matava qualquer vontade de rir.
Ela e ele foram embora de sua casa da praia de Malibu, e nunca mais voltaram. Foram embora fugindo dos mexicanos, porque na Califórnia existem cada vez mais mexicanos que comem comida apimentada e têm o maldito costume de rir às gargalhadas. Agora eles dois vivem na ilha de Tasmânia, que fica lá pelos lados da Austrália, só que mais longe.
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